Daily Archive abril 7, 2018

Justiça brasileira estará sob exame internacional após prisão de Lula

Um editorial publicado pelo jornal francês ”Le Monde” neste sábado (7) resume um dos poucos consensos internacionais a respeito da ordem de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: depois desta decisão, a Justiça brasileira terá que provar ao mundo que sua mobilização contra a corrupção é capaz de atingir também a outros grupos políticos, e que não estava interessada apenas em perseguir o PT e Lula.

Enquanto ainda há muita polarização a respeito de interpretações sobre o que a prisão de Lula representa, é possível ver em análises estrangeiras o sentimento comum de que a Justiça estará sob escrutínio para se provar capaz de combater a corrupção em toda a política brasileira, e não apenas em um partido.

”A Operação Lava Jato deve demonstrar ao país que a prisão de Lula não é um ato político. Que a prisão daquele que continuará sendo um dos dirigentes mais marcantes da história do país não significa o fim dos processos. Depois de ter tocado as figuras do PT até atingir seu líder histórico, a Lava Jato precisa ter a mesma severidade com outros caciques de partidos do centro e da direita”, diz o jornal francês.

Entre muitos analistas de ambos os lados da polarização política, há uma preocupação de que a prisão de Lula possa representar uma redução no ímpeto da luta contra a corrupção. A narrativa histórica e internacional sobre a luta contra a corrupção no Brasil e a prisão de Lula, entretanto, vai depender de como a Justiça brasileira vai se comportar a partir de agora.

Os próximos passos da Operação Lava Jato vão estar sendo observados atentamente no resto do mundo e podem determinar o estado da reputação internacional do Brasil e mesmo do ex-presidente Lula. Em muitas das avaliações de estrangeiras, o sentimento é uma mistura de esperança e ceticismo.

”Seria bom no futuro se pudéssemos olhar para trás e dizer que a Lava Jato iniciou um processo no qual a árvore da corrupção foi arrancada. Receio, no entanto, que possamos acabar dizendo apenas que seus galhos foram aparados”, disse o diretor do Brazil Institute do King’s College London, Anthony Pereira.

Este encaminhamento da luta contra a corrupção após a prisão de Lula pode oferecer uma resposta para uma das principais divergências entre analistas no exterior. É esta continuação das investigações e a possível prisão de líderes de outros partidos que vai definir a história deste momento da política brasileira.

Só assim será possível saber se a democracia brasileira realmente não está sob ataque, como disse o brasilianista Riordan Roett, diretor do Programa de Estudos da América Latina da Universidade Johns Hopkins, ou se a prisão de Lula é o resultado de uma tentativa de tirar do PT qualquer chance de voltar ao poder, como avaliou James Green, professor de história e estudos brasileiros na Universidade Brown (EUA).

Novas revelações e prisões em outros partidos podem comprovar a legitimidade do processo e da prisão de Lula sem detrimento à democracia. Mas, se as investigações perderem ímpeto após a prisão de Lula, o resto do mundo seguirá a segunda interpretação, e o sistema político brasileiro, sua Justiça, suas instituições e regras do jogo podem perder totalmente o que ainda têm de credibilidade.

Por Daniel Buarque do Blog brasilianismo

‘Brasil precisa do mesmo entusiasmo anti-Lula para fazer faxina em todo o sistema político’, diz biógrafo britânico

O pesquisador britânico Richard Bourne, que é autor de Lula of Brazil, biografia de Luiz Inácio Lula da Silva lançada em 2008, comentou sobre a prisão de Lula, erros do PT e o que espera da política do Brasil. As declarações do pesquisador foram dadas em entrevista à BBC.

“Pelo que eu sei do início da carreira dele, eu diria que ele não foi tão cuidadoso quanto deveria. Certamente havia pessoas no PT, e não há dúvidas sobre isso, que estavam envolvidas em vários tipos de corrupção. Ele não foi tão forte quanto deveria. Quando comparamos o que aconteceu recentemente com seus primeiros anos de Presidência, o idealismo existiu, mas houve um triste declínio”, disse Bourne à BBC Brasil.

O pesquisador, contudo, pondera que o Brasil precisa do “mesmo entusiasmo” anti-Lula para fazer uma “faxina” em todo o sistema político e punir todos os políticos envolvidos com corrupção no país. “O Brasil precisa de uma faxina em todo o sistema político. Eu gostaria de ver um entusiasmo (anti-Lula) em banir (o presidente Michel) Temer e outros membros da classe política que estão envolvidos em corrupção”.

Bourne diz ainda que gostaria de ver o PT fazendo uma autocrítica sobre as acusações que pesam contra a legenda e seus filiados. Para ele, o partido deveria agir contra os petistas envolvidos com corrupção.

Apesar de as acusações e da ordem de prisão contra Lula, Bourne destaca que o petista ainda é um líder extremamente popular e capaz de influenciar as eleições mesmo sem estar nas urnas. Para o biógrafo, Lula vai atuar nos bastidores e tem condições de transferir popularidade mesmo preso.

Com informações de Fernanda Odilla e Nathalia Passarinho para BBC Brasil em Londres

Lula é o primeiro presidente da história preso por crime comum no país

Luiz Inácio Lula da Silva, Lula, é o primeiro ex-presidente brasileiro a ser condenado e preso pela Justiça por crime comum. Condenado a 12 anos e um mês por corrupção e lavagem de dinheiro, ficará preso em uma sala especial da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Lula teve a prisão determinada pelo juiz federal Sérgio Moro na última quinta.

Antes de Lula, cinco ex-presidente da República foram detidos só que por motivações políticas. As prisões começaram com Hermes da Fonseca, no começo do século 20, depois, Washington Luís e Arthur Bernardes, nos anos de 1930, Café Filho, na década de 1950, e Juscelino kubitschek, durante a ditadura militar.

Desde a redemocratização, somente Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso não foram alvos de inquéritos ou de denúncias.

Manifestantes pró e contra Lula saem às ruas em todo o país

Manifestantes contrários ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemoraram, neste sábado (7), com fogos de artifício, buzinaço e panelaço o momento em que ele se entregou à Polícia Federal ao deixar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). Houve manifestações em Brasília, Fortaleza, São Paulo e Curitiba, entre outras cidades.

Aliados e simpatizantes do ex-presidente também saíram às ruas em defesa de Lula e pedindo a liberdade dele.

Em Brasília, foram ouvidos barulhos de fogos de artifício, buzinas e panelaços na Asa Norte, na Asa Sul e em Águas Claras, bairros de classe média. A chuva começou e as manifestações diminuíram.

Também em Curitiba, onde o ex-presidente Lula é esperado e deve cumprir pena, houve manifestações contra e a favor dele. Com gritos, buzinas e panelaços manifestantes reagiram ao saber da saída de Lula da sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo, onde ele estava desde quinta-feira (5).

Na capital paulista, as manifestações ocorreram no centro e na zona oeste.

Da Agência Brasil

Lula: “Eu não sou mais um ser humano, eu sou uma ideia”

Durante seu primeiro discurso público desde que seu mandado de prisão foi expedido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivou a participação popular por meio de manifestações e protestos em defesa de ideias e propostas. O discurso foi realizado em cima de um carro de som, em São Bernardo do Campo.

“Minhas ideias estão no ar e não tem como prendê-las. Meu coração baterá pelo coração de vocês”, disse.

E continuou: “Não pararei porque não eu sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês. A morte de um combatente não para a revolução”, afirmou.

Nos braços do povo! Foto: @ricardostuckert/Reprodução

Lula sai do silêncio e discursa

Em São Bernardo do Campo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu em cima de um carro de som e discursou por quase um hora, neste sábado (7). A fala aconteceu pela primeira vez em público desde que seu mandado de prisão foi expedido.

O discurso iniciou logo depois da sua participação na missa em homenagem à Dona Marisa Letícia, in memorian. Lula foi bastante ovacionado pela militância.

Ele afirmou que iria se entregar à PF, mas que sairia de cabeça erguida porque voltaria de peito estufado, após provar sua inocência. Também criticou a Justiça e o Juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato.

O ex-presidente acenou para a militância e cerrou os punhos enquanto era aplaudido por colegas de partido. No fim, ele saiu carregado pelos apoiadores.

Estavam em cima do caminhão a ex-presidente Dilma Rousseff, os presidenciáveis Guilherme Boulos (Psol) e Manuel D´Ávila (PcdoB), o ex-ministro Alouzio Mercadante, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e outros aliados.

Multidão levanta Lula. Foto: Francisco Proner / Farpa Fotocoletivo
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