Imagine a seguinte situação: depois de anos de namoro, e meses de preparação, um casal realiza seu sonho e se casa com toda a pompa e circunstância. Na recepção, os familiares e amigos estão ansiosos para celebrar, além de famintos, depois de toda a cerimônia. Ao todo são 200 convidados, e quem trabalha em cerimonial calcula que a proporção ideal seja de um garçom para cada 20 pessoas. Com isso, o buffet em questão deveria ter pelo menos dez garçons. Ocorre que o noivo, pensando em economizar, contratou somente 1/5 do efetivo ideal, ou seja: dois garçons, para atender aquelas 200 pessoas. Resultado: um desastre. Os convidados são mal atendidos, os garçons correm para tentar atender a demanda, os noivos se irritam e cobram resultado a todo momento e a festa vai por água abaixo. Ao fim, os garçons estão exaustos. Correram tanto, se sacrificaram, fizeram o possível, mas não alcançaram a excelência na prestação do serviço.
Com esta analogia, talvez fique mais fácil compreender a situação da Polícia Civil no Rio Grande do Norte. Segundo cálculos de organismos internacionais de segurança, um estado com a população do tamanho da nossa, deveria ter, pelo menos 5.150 policiais civis. Mas atualmente, temos ao todo 1.325 servidores, entre delegados, escrivães e agentes. Assim como os garçons, eles correm, se desdobram, vão ao sacrifício pessoal e diário, ao ponto de adoecerem, mas não conseguem realizar um serviço de excelência. A população (os convidados do buffet na analogia) cobram, reclamam, criticam, muitas vezes sem enxergar a situação dos dedicados garçons. Enquanto isso, os membros do poder público, cobram resultado a todo momento, de forma injusta, já que não oferecem as condições para tanto.
Os preocupantes números não foram atingidos da noite para o dia. Para se ter uma ideia, o último certame para a polícia que investiga os crimes e aponta os suspeitos aconteceu em 2008, incríveis doze anos atrás. E o anterior a este, ocorrera 15 anos antes. Ou seja, em quase trinta anos, tivemos apenas dois concursos para a polícia judiciária. Hoje, ela opera com cerca de 26% do efetivo adequado, mas se nada for feito, daqui a três anos, tal proporção poderá cair para 20% ou 1/5, exatamente como no exemplo da festa de casamento fracassada. Isso porque, na presente data, 150 policiais estão aptos para aposentar, e nos próximos três anos, outros 102 estarão nas mesmas condições
Há três anos, um processo para a realização do concurso tramita no governo do estado. Recentemente, após muitas etapas já terem sido alcançada, a Secretaria de Administração decidiu passar para a própria Delegacia Geral de Polícia a responsabilidade da organização do certame, o que levou tudo praticamente à estaca zero. Esta é a terceira vez que o processo é reiniciado, e o que preocupa ainda mais, é que existe um prazo até 14 de setembro para que o Governo do Estado publique o edital, sob pena de se perder todo o processo. É importante ressaltar que, se a publicação fosse efetivada hoje, os primeiros delegados, agentes e escrivães seriam nomeados e começariam a trabalhar daqui a três anos.
Para a presidente da
Associação dos Delegados de Polícia Civil do RN, delegada Taís Aires, a realização do concurso depende hoje de vontade política da governadora Fátima Bezerra. “Acredito na boa vontade da governadora, até porque ela já anunciou publicamente e fez promessas sobre o concurso. Mas isso não é suficiente. A chefe do executivo precisa deixar claro para todas as secretarias e órgãos envolvidos, que esse concurso é uma prioridade para o estado. Estamos cansados de tantas idas e vindas. Precisamos de atos concretos”, ressaltou.