Eram todos muito jovens e sonhavam com fama e glória no futebol, mas
tiveram o futuro consumido pelo incêndio que destruiu o alojamento onde
viviam. A morte de dez jogadores das categorias de base do Flamengo,
nesta sexta-feira, 8, no Rio, é a última de uma sequência de tragédias
ocorridas no País e que poderiam ser evitadas.
Em 2013, o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), deixou 242 mortos e 680 feridos – a grande maioria universitários. Em 2015, o rompimento da barragem da Samarco destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), matando 19 pessoas e desabrigando 1,2 mil. Em 2018, no centro da capital paulista, o prédio Wilton Pais de Almeida desabou e matou 7 sem-teto que moravam no local. Ainda em 2018, outro incêndio, desta vez no Museu Nacional, no Rio. Não houve mortos nem feridos, mas o desastre acabou com o mais importante acervo da ciência do País. Neste ano, há duas semanas, outra barragem se rompeu, agora da mineradora Vale, em Brumadinho. Até agora, 157 corpos foram encontrados e 182 continuam desaparecidos.
No caso do incêndio no Flamengo, a área do alojamento que pegou fogo
chegou a ser interditada pela prefeitura em 2017, por falta de alvará.
Segundo a gestão municipal, o local foi lacrado após a emissão de “quase
30 multas”. Para o comandante do Corpo de Bombeiros, Roberto Robadey, o
alojamento era um “puxadinho”. A principal suspeita é que o fogo tenha
começado após curto-circuito no ar-condicionado.
A sequência de tragédias desencadeou manifestação da
procuradora-geral da República, Raquel Dodge: “Estamos vendo uma
sucessão de fatos e desastres evitáveis, preveníveis e precisamos estar
atentos a eles para que as instituições de controle, fiscalização e
punição realmente funcionem no Brasil”. Para Roberto Romano, professor
de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o
ponto central é que não temos uma democracia consolidada. “A
responsabilidade é a base da democracia moderna. Aqui isso não existe,
todo mundo acha que pode fazer o que quiser porque não vai pagar por
isso, tanto a sociedade quanto as autoridades.”
Conteúdo por ESTADÃO CONTEÚDO