As idas e vindas em torno do aumento do Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) e da proposta de reforma da Previdência revelaram uma
disputa interna na equipe do presidente Jair Bolsonaro logo na primeira
semana de governo. De um lado está o chefe da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni, e, de outro, o ministro da Economia, Paulo Guedes. O primeiro
é o capitão do time e o segundo tem a chave do cofre.
A ideia de elevar o IOF para compensar a perda de arrecadação com a
extensão de incentivos às regiões Norte e Nordeste – anunciada ontem por
Bolsonaro e descartada poucas horas depois pelo secretário especial da
Receita Federal, Marcos Cintra – chegou mesmo a ficar de pé por algumas
horas. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o núcleo político do
governo venceu, porém, a queda de braço com Guedes e conseguiu derrubar a
medida, considerada impopular.
No Palácio do Planalto há quem atribua o vazamento da notícia sobre o
aumento do IOF ao ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência,
Gustavo Bebianno, que faria uma espécie de “dobradinha” com Guedes. Nos
bastidores, Onyx e Bebianno disputam o protagonismo nas articulações
políticas.
Não é de hoje que o chefe da Casa Civil anda se estranhando com o
titular da Economia. Nos últimos dias, Onyx ficou muito contrariado ao
saber que Guedes convenceu o PSL de Bolsonaro a apoiar a candidatura à
reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
No diagnóstico do ministro da Economia, a recondução de Maia é
fundamental para que o governo tenha mais tranquilidade no Congresso e
consiga aprovar, por exemplo, a reforma da Previdência. Bebianno tem a
mesma avaliação de Guedes e acha até mesmo que alguma mudança nas regras
da aposentadoria já poderia ter passado pelo Congresso se o aval a Maia
tivesse sido anunciado antes.
Resistência
Apesar de ser do DEM, Onyx resistia ao apoio a Maia. Ficou ainda mais
irritado ao saber que a aproximação entre o PSL e o presidente da
Câmara foi feita por Guedes. Deputados eleitos pelo PSL disseram a ele,
então, que optaram por esse acordo porque, caso contrário, o partido de
Bolsonaro ficaria isolado, sem assento em comissões estratégicas da
Câmara, como Constituição e Justiça e Finanças e Orçamento.
Onyx só se convenceu mesmo depois que integrantes da nova assessoria
parlamentar da Casa Civil – formada por deputados não reeleitos –
afirmaram que, se Maia fosse “ignorado” pelo PSL, criaria muitos
problemas em votações de interesse do Planalto.
O ministro da Casa Civil também tem sido protagonista de informações
consideradas desencontradas sobre a proposta de reforma da Previdência. O
vaivém desagrada a equipe técnica que prepara o texto porque, na
avaliação desses assessores, aumenta incertezas em torno da estratégia
para a proposta que será apresentada depois que o novo Congresso voltar
aos trabalhos, em fevereiro.
Na primeira reunião ministerial do novo governo, anteontem, Guedes
propôs uma reforma da Previdência mais dura, com idade mínima maior para
a aposentadoria. Bolsonaro discordou e pediu aos ministros que sempre
apresentassem a ele duas linhas de ação. O presidente defende uma idade
mínima de 57 anos para mulheres e de 62 para homens.
Maia acha que Guedes tem razão. O presidente da Câmara afirmou ontem
que a redução da idade mínima em relação à proposta do governo de Michel
Temer “mata” a regra de transição. Temer propôs que homens se
aposentassem a partir de 65 anos e mulheres, 62.
A entrevista dada por Bolsonaro ao SBT, comentando pontos ainda não
definidos da proposta, também trouxe preocupação ao mercado, que viu
risco de a reforma acabar sendo muito branda. As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo.
Estadão Conteúdo