O andamento e o resultado das eleições presidenciais podem interferir nos processos e nas investigações da Operação Lava Jato?

Essa resposta vamos saber apenas a partir de primeiro de janeiro, quando o novo presidente da República assumir a direção do país.

No entanto, o juiz Sérgio Moro, condutor de vários processos da operação na primeira instância da Justiça e responsável pela condenação do ex-presidente Lula, teme que o novo mandatário do país deixe de tomar decisões favoráveis ao combate à corrupção e, com isso, enfraqueça as ações da Lava Jato.O temor de Moro tem sentido. Em entrevista à TV Difusora, no Maranhão, no dia 16 de julho, o candidato à presidência Ciro Gomes, do PDT, afirmou que, se eleito, Lula sairá da prisão por intermédio de seu governo.

Ele ainda disse que, na presidência, vai restabelecer o “poder político” no país e colocar juízes e promotores naquilo que o pedetista chama de “caixinha”, ou seja, em seus devidos lugares.

“O país está precisando de pulso, de liderança, de autoridade, até para corrigir a carga. Você imagina se com um cabra desses do outro lado o Lula tem alguma chance de sair da cadeia? Nenhuma. Ele só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”, disse.

O juiz federal Sergio Moro (Foto: Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress)

Em dois de julho, em entrevista ao programa Band Eleições, da Rede Bandeirantes de TV, Manuela D’Ávila, pré-candidata do PCdoB, disse que, se eleita presidente, independentemente do resultado dos julgamentos da Justiça, vai usar o poder presidencial de indulto.

“Eu espero que nos meses que me separam, separam a eleição da posse presidencial, o presidente Lula seja julgado em terceira instância e seu processo seja julgado no mérito. É assim que as coisas devem ser resolvidas. Essa é a minha expectativa. Espero que isso aconteça e, se não acontecer, sim, daria indulto a ele”, afirmou.

Em sabatina realizada pela revista Isto É, em 22 de junho, Guilherme Boulos, candidato do PSOL à presidência, também afirmou que afrontará a Justiça, caso seja eleito, e usará a caneta presidencial para reverter decisões judiciais.

“Havendo uma farsa judicial ou condenações injustas, em governo meu, isso não seria mantido, daria sim indulto a Lula. Em governo meu, não vai ser tolerada a injustiça”, disse.

Em um fórum promovido pelo jornal Estadão, nesta semana, o juiz Sérgio Moro propôs justamente o contrário daquilo que os postulantes ao Planalto do PDT, do PC do B e PSOL prometem fazer se eleitos.

Moro acredita que os crimes de corrupção não podem ficar impunes e a Justiça precisa ser atuante, até que a prática seja banida do poder público do país.

Ele lembra que as lideranças políticas, como o presidente da República, precisam dar exemplo de boa conduta e agirem em conjunto com a Justiça contra os atos de corruptela, em todas as esferas do país.

“A efetividade do sistema de Justiça criminal, em relação à corrupção, é uma condição necessária para superar o problema. Precisa-se mandar uma mensagem de que essas condutas graves não permanecerão impunes. São necessárias políticas públicas mais gerais para diminuir incentivos e oportunidades da corrupção. É igualmente necessário exemplos de lideranças, com atuação íntegra, nas várias esferas da federação, para que esse quadro da corrupção disseminada seja vencido”, recomendou.

Moro disse ainda ao jornal que as eleições geram riscos para a continuidade das investigações da Lava Jato porque o novo presidente precisa realizar mudanças políticas de governanças, criar novas leis que possam diminuir os incentivos e as oportunidades de corrupção, mas ainda não está claro se isso vai ser realizado a partir do ano que vem.

Sem essas medidas, de acordo com o juiz, o combate a corrupção pode deixar de avançar no país.

Por Agência do Rádio Mais