Em cinco dia em SP, uma constatação triste sobre essa que é a cidade mais importante do Brasil, onde tudo acontece e funciona como uma colcha de retalhos e uma antena potente do resto do país: como ficamos pobres, miseravelmente pobres nos últimos anos.

Assim como em outras cidades brasileiras, só que aqui de forma mais chocante, há em SP milhares de pessoas nas ruas pedindo dinheiro, do Centro aos Jardins, da Av Paulista à calçada do luxuoso shopping Iguatemi. É muito triste. As abordagens são feitas não só por mendigos, mas por pessoas que certamente ficaram desempregadas nos últimos anos, perderam tudo, moram na rua. Havia um mendigo pelado fazendo isso na calçada da livraria Fnac no domingo. Parecia coberto de piche de tão sujo. O odor era terrível. Parecem zumbis vagando pelas ruas com mantas imundas nas costas.

Essa tragédia do incêndio e desabamento de um prédio do governo federal ocupado por sem tetos, refugiados africanos e haitianos, miseráveis de toda sorte e desvalidos do poder público neste 1o de maio, coroa como uma metáfora que ninguém gostaria de ver no que se transformou o nosso país.

Estamos demanchando. Desmoronando. O chão está sumindo debaixo dos nossos pés e só há escombros e rescaldos, como os desse prédio. O país está uma ruína.

São Paulo sempre tão rica, maravilhosa, terra de oportunidades para tanta gente que fez dela sua casa, lugar onde quem não tem preguiça sobe na vida, constrói fortunas, é valorizado, estado que abraça o país como nenhum outro, parece ter esgotado as suas forças.

Na TV, o atual prefeito de SP informa que há outros 40 prédios como esse incendiado hoje invadidos na cidade. Dona Francisca, que escapou com seus filhos e está na rua, deitados em colchões, disse à reportagem que imploraram por ajuda há anos. O pastor da Igreja Luterana, que foi 80% destruída ao lado do desabamento, disse com muita coragem que era uma tragédia anunciada, que falaram sobre isso muito e muito. E aconteceu.

Um horror. Um horror. Imagens de um homem morrendo nas chamas enquanto o prédio desaba já rodam o mundo.

Recentemente, o governador e o prefeito de SP renunciaram em busca da presidência da República. Deixaram todos esses problemas para trás. Os paulistas e paulistanos se sentem traídos, pois parece que a cidade virou trampolim para o Palácio do Planalto. O presidente Michel Temer, que é daqui, foi ao local da tragédia, mas foi hostilizado, interrompeu a entrevista que estava dando e saiu debaixo de vaias e tapas no carro oficial.

Ao contrário dos líderes lá de fora, os nossos não tem condições de visitar o local de uma grande tragédia como essa, tampouco irem em hospitais ver feridos.

Estamos mal. É ano de eleições. Um país destroçado. 14 milhões de pessoas sem emprego, a maioria voltando para a pobreza extrema. Vivendo nas ruas ou em prédios como o que desabou hoje em São Paulo.

Deus nos proteja. Em todo Brasil e hoje em especial em SP. Nos EUA o terrorismo destruiu torres. No Brasil, é a incompetência de quem administra o nosso dinheiro que nos mata. Dia após dia.

A foto é do amigo Raul Juste Lores, jornalista que hoje é um dos grandes conhecedores da história dos edifícios do centro de SP.

Por Paulo Araújo, jornalista