RAPAZ, SE EU FIZESSE ISSO MINHA MULHER ME TOCAVA DE CASA”, COMENTA, NA BRINCADEIRA, um dos trabalhadores encarregados da obra – um oásis que reina sozinho em 7 km de costa em São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte. Os proprietários Cris Dios e Itamar Cechetto estavam determinados a fazer de cada metro quadrado um espaço imperfeitamente único. Nada de gesso ou massa corrida padronizando paredes. Daí a surpresa do funcionário durante a construção, que levaria dois anos para ser finalizada. Foi o cuidado nos detalhes que contribuiu para que a empreitada se estendesse, e não o fato de que os empresários, à frente do grupo de salões de beleza Laces and Hair, moram em São Paulo, a quase 3 mil km de São Miguel. “São três horas de voo e 1h20 do aeroporto até lá. Dependendo da época, levaríamos esse mesmo tempo para ir a uma praia do litoral paulista”, lembra Itamar.
Tudo o que havia no terreno era um mandacaru muito antigo, e a possibilidade de implantar a moradia de modo a ter 180 graus de vista da praia. Entre junho e julho, ganha-se o privilégio extra de ver o sol nascer e se pôr ali em frente, na linha do oceano. A dedicação do engenheiro Fernando Castro foi decisiva para o sucesso da obra. Ao final, nada ofuscava a natureza – nem as cores, nem os materiais – todos locais ou vindos dos estados próximos, como Ceará e Paraíba. A distribuição não segue nem de longe uma planta convencional. O lugar de encontro do casal, seus dois filhos e os sempre bem-vindos convidados é o caramanchão. Junto à cozinha, ele faz as vezes de salas de jantar e de estar, além de abrigar a lareira, item mais do que essencial nesta residência.
Os outros “setores” são formados por um módulo com duas suítes de 50 m² e mais dois módulos, cada um com três suítes, todos denominados cabanas pelos donos. O conjunto completo, com 600 m² de área construída, é o que Itamar e Cris chamam de “formato de aldeia”. As matérias-primas nativas não se restringiram à estrutura. Elas também estão nos acabamentos e até em parte do mobiliário. O casal e o engenheiro saíram em busca de telhas moldadas manualmente em Reduto, o vilarejo vizinho, propondo uma troca. Os habitantes receberam telhas novas, enquanto as literalmente feitas nas coxas acabaram em São Miguel.
A taboa, vegetação que cresce nos brejos, foi empregada na cobertura. Pois é, a natureza provê. Pedaços de madeira unidos paralelamente são comuns nas cercas das casas dos pescadores. E têm nome: faxina. Aqui, ela se exibe na cabeceira da cama da suíte, nos guarda-roupas e na varanda dos quartos e da cozinha, proporcionando um lindo sombreado. Mesmo o que veio de São Paulo tem a mão e o olho dos donos, a exemplo das cortinas coloridas, resultado da costura de muitos retalhos que Cris Dios ganhou da estilista Adriana Barra. Não ficou nada para o acaso.