(Reuters) – Sem citar nominalmente o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, atribui nesta quarta-feira a ideia de que o Ministério Público tenha vazado nomes citados na delação da Odebrecht na Lava Jato a “mentes ociosas e dadas a devaneios”.
No dia seguinte a Gilmar Mendes, que também é ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), responsabilizar a Procuradoria-Geral da República pelo vazamento de nomes de políticos com prerrogativa de foro junto ao Supremo alvos de pedidos de abertura de inquérito baseados na delação da Odebrecht, Janot criticou, sem citar o magistrado, o relacionamento próximo que ele tem com políticos.
“É uma mentira, que beira a irresponsabilidade, afirmar que realizamos, na PGR, coletiva de imprensa para ‘vazar’ nomes da Odebrecht”, disse Janot durante discurso em evento na Escola Superior do Ministério Público da União.
Sem citar encontros que Gilmar Mendes tem tido recentemente com políticos, como o presidente Michel Temer e os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), citados nos vazamentos da Lava Jato, Janot garantiu que os membros do Ministério Público evitam a aproximação com poderosos de plantão.
“Procuramos nos distanciar dos banquetes palacianos. Fugimos dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder político. Ainda assim, meus amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar a todos à sua decrepitude moral, e para isso acusam-nos de condutas que lhes são próprias, socorrendo-se não raras vezes da aparente intangibilidade proporcionada pela posição que ocupam no Estado”, alfinetou.
“Infelizmente, precisamos reconhecer que sempre houve, na história da humanidade, homens dispostos a sacrificar seus compromissos éticos no altar da vaidade desmedida e da ambição sem freios”, discursou Janot, que também afirmou que os críticos da Lava Jato são os mesmos que têm os interesses contrariados pela operação.
Na véspera, Gilmar Mendes falou em “crime” de vazamento das delações e defendeu a anulação dos acordos de delação premiada vazados pela imprensa.
“Cheguei a propor, no final do ano passado, o descarte do material vazado, uma espécie de contaminação de provas colhidas licitamente, mas divulgadas ilicitamente”, disse Gilmar Mendes.
“Quando praticado por funcionário público, vazamento é eufemismo para um crime: a violação de sigilo funcional, artigo 325 do Código Penal”, acrescentou.
Os 83 pedidos de abertura de inquérito feitos por Janot ao STF chegaram na terça-feira ao gabinete do relator da Lava jato no Supremo, ministro Edson Fachin, a quem caberá decidir quais inquéritos irá autorizar e se levantará o sigilo dos acordos.
(Por Eduardo Simões Reuters)