Em sua primeira declaração após a confirmação de sua derrota para
Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pelo Planalto, candidato do PT, Fernando
Haddad pediu respeito a seus cerca de 45 milhões de votos e afirmou que
seus eleitores não precisam ter medo. “Nós estaremos aqui. Nós estamos
juntos”, disse. “Contem conosco. Coragem, a vida é feita de coragem.
Viva o Brasil”.
Advogado, doutor em filosofia, professor, Fernando Haddad está longe
de ter a mesma familiaridade com comícios e palanques de petistas
tradicionais, menos ainda do seu padrinho político, Lula. Mas, mesmo
derrotado por Jair Bolsonaro nas urnas, ele deixa a eleição de 2018 como
forte candidato a uma outra disputa: a prefeitura de São Paulo daqui a
dois anos.
Haddad só discursou após o primeiro pronunciamento de Bolsonaro como
presidente eleito. Ele acompanhou a apuração ao lado da família e de
lideranças do partido em um hotel na zona sul de São Paulo. O candidato
derrotado não ligou para o vencedor, como é tradição na disputa
eleitoral brasileira.
A palavra “coragem” foi dita em diversos momentos do discurso de
Haddad, que durou pouco menos de nove minutos. Ele disse que aprendeu
com seus antepassados “o valor da coragem para defender a Justiça a
qualquer preço”. “A coragem é um valor muito grande quando se vive em
sociedade”.
Em nenhum momento Haddad fez referência direta a Bolsonaro, mas disse
que, durante a campanha, sentiu “angústia e medo nas expressões de
muitas pessoas”. “Daqui a quatro anos, nós teremos uma nova eleição. Nós
temos que garantir as instituições. Nós não vamos sair das nossas
profissões, dos nossos ofícios. Não vamos deixar de exercer a nossa
cidadania”, disse.
Talvez o Brasil nunca tenha precisado mais do exercício da cidadania
do que agora. Eu coloco a minha vida à disposição deste país. Tenho
certeza que falo por milhões de pessoas que colocam o Brasil acima da
própria vida, acima do próprio bem-estar
Ao lado de Haddad, também estavam sua candidata a vice, Manuela
D’Ávila, além dos presidentes do PSOL, Juliano Medeiros, e PCdoB,
Luciana Santos. O candidato derrotado do PSOL ao Planalto, Guilherme
Boulos também participou do ato. A ex-presidente Dilma Rousseff foi a
mais festejada entre os presentes, tendo seu nome gritado pelos
militantes. “Dilma, guerreira da pátria brasileira”, entoaram. Os
petistas também assoviaram a música “olê, olê, olá, Lula, Lula”.
O petista foi recebido com comemorações pelos militantes ao chegar no
salão em que fez seu pronunciamento. Na sequência, os organizadores do
evento pediram um minuto de silêncio e lembraram de mortes ligadas à
política, como a da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e a do
mestre Moa do Katendê. “Nós não vamos deixar esse país para trás,
respeitando a democracia.”
Apesar de todas as pesquisas apontarem uma provável derrota, a
campanha petista construiu um discurso de otimismo nos últimos dias.
Neste domingo, antes de ir votar, Haddad chegou a dizer que estava
confiante em “um grande resultado hoje”. “As pesquisas indicam uma
retomada importante da intenção de voto no nosso projeto. E eu confio na
democracia, confio no povo brasileiro”.
Em contraste, lideranças petistas mantiveram o tom de cautela ao
longo de todo dia. Para alguns petistas, a derrota já era algo esperada,
e a esperança era de diminuir a diferença de Haddad para Bolsonaro. Uma
margem menor daria mais força para o partido ter força como oposição ao
governo do presidente eleito.
Quando houve a confirmação da vitória de Bolsonaro, alguns militantes
choraram. “Estaremos na resistência do dia a dia”, disse um apoiador
petista que estava no hotel.
Em contraste com a tristeza do lado de dentro, na rua em frente ao
hotel passavam carros com a bandeira do Brasil buzinando, celebrando a
vitória de Bolsonaro.
Haddad, que assumiu a candidatura presidencial do PT devido à
impossibilidade de Lula, preso, disputar o pleito, viu a distância nas
pesquisas diminuírem nos últimos dias antes do segundo turno, mas não
conseguiu virar o placar contra Bolsonaro.
Os políticos que circulavam pelo lobby do hotel já haviam, quase
todos, deixado o local pouco depois das 19h, quando os resultados
oficiais dos estados começaram a ser divulgados. Depois da confirmação,
ficaram apenas Luiz Marinho, presidente estadual do PT e candidato
derrotado ao governo de São Paulo, e Eduardo Suplicy e Jilmar Tatto, que
disputaram o Senado e também não foram eleitos.
Haddad não vai visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
na superintendência da PF em Curitiba nesta segunda. Quem se encontrará
com Lula é o deputado estadual eleito Emidio de Souza (PT-SP), um dos
principais auxiliares de Haddad durante a campanha. Assim como Haddad,
Emidio também está registrado na equipe de advogados de Lula.
Ele votou pela manhã na capital paulista, por volta das 10h15. O
petista declarou esperar que o dia transcorra com “muita tranquilidade”.
“Eu confio na democracia, confio no povo brasileiro”, disse Haddad.
Assim que os militantes iniciaram o ato, moradores do prédio que fica em
frente ao colégio começaram a bater panela.
Fonte: Folhapress/Blog BG